Na Tertúlia em Santana, no dia 15 de janeiro de 2016, sob o tema A adaptação do currículo à realidade local (programa), foi consensual não só a necessidade dessa adaptação do currículo ao contexto dos estudantes, bem como as escolas se especializarem em áreas profissionais de acordo com as apetências e potencialidades de cada concelho ou localidade. Uma questão que fora abordada na tertúlia inaugural em São Vicente. Mereceu ainda consenso que a «criação de emprego» tem um peso fundamental na fixação das pessoas nas localidades de origem. Mais do que tudo o resto.
Realizada no Hotel-Restaurante O Colmo, com a presença de cerca de 40 pessoas, esta foi uma iniciativa do SPM, através do seu Centro de Formação, que se insere no Ciclo de Tertúlias intitulado Debater a Educação, Perspetivar o Futuro, que está a percorrer a Região Autónoma da Madeira, ao longo do presente ano letivo.
Em Santana, participaram os seguintes oradores convidados: Élia Gouveia, vereadora com o pelouro da Educação na Câmara Municipal de Santana; Francisco Vasconcelos, coordenador de Outras Modalidades de Formação na Escola Básica e Secundária Bispo D. Manuel Ferreira Cabral; Glória Gonçalves, professora na Universidade da Madeira das disciplinas Teoria e Desenvolvimento Curricular e Intervenção Comunitária; e Rui Moisés, presidente da Associação Santana Cidade Solidária. A moderação este a cargo de Rita Pestana, dirigente do SPM.
A primeira intervenção foi de Glória Gonçalves, que defendeu a adequação do currículo aos diferentes contextos, como preconizava a Lei de Bases do Sistema Educativo aprovada em 14 de outubro de 1986. Tal veio trazer, inclusive, mudanças pedagógicas na sala de aula e fora dela, nomeadamente no incremento do trabalho colaborativo entre os professores. A docente universitária encara o currículo nacional como «fio condutor», sendo possível «adaptar localmente», isto é, conciliar das duas vertentes: o nacional e o local.
O objetivo é aproveitar as vivências dos alunos, o que é «mais significativo para eles», e, a partir daí, chegar ao currículo nacional. Ao fim ao cabo, uma questão do ângulo de abordagem do processo de ensino-aprendizagem, que tem a ver com a corrente pedagógica que coloca a centralidade no aluno e nas suas vivências. Compreende-se ainda a centralidade conferida ao trabalho colaborativo entre as escolas/docentes e a comunidade alargada. Isto tendo também como meta a formação de «cidadãos ativos e interventivos» nas suas comunidades: «é assim que se desenvolve a nossa terra», rematou Glória Gonçalves.
O professor Francisco Vasconcelos, defensor da adaptação curricular, foi mais longe: possui a convicção que as «escolas especializadas em áreas profissionais» consoante as localidades e contextos, em vez de as «escolas oferecerem todas o mesmo», seria uma boa estratégia. Inclusive para resolver o problema na formação de turmas com o número mínimo de alunos. Considera que podemos tirar partido da experiência adquirida na Região na formação profissional, num momento em que a Secretaria Regional procura aumentar a oferta de cursos profissionais. Defendeu a existência de outras modalidades de formação para quem não quer prosseguir estudos.
Este docente da Escola Básica e Secundária Bispo D. Manuel Ferreira Cabral e Élia Gouveia coincidiram quanto à questão sensível da «criação de emprego». Esta preletora reconheceu que o incentivo à natalidade proporcionado pela autarquia é «insuficiente» para reverter a saída das pessoas. Francisco Vasconcelos referira que, «mais do que todos os apoios», à natalidade, aos estudantes, entre outros, é a «criação de emprego» o aspeto fulcral. Daí defender «apoios à criação de emprego», tanto por parte da iniciativa privada como pelas entidades públicas (estratégia partilhada por Rui Moisés na conjugação de esforços para o desenvolvimento local). Isto porque as pessoas emigram mesmo com níveis elevados de qualificação.
Neste âmbito, a vereadora com o pelouro da Educação na Câmara Municipal de Santana sublinhou que é difícil motivar os jovens para a formação e qualificação «se não têm perspetivas de emprego». Testemunhou que hoje se nota um «maior envolvimento» das escolas com a comunidade, reconhecendo que, perante «novas realidades», os professores têm de encontrar novas respostas e se adaptarem.
Rui Moisés, além de apelar para um «acordo de Estado» para haver estabilidade e coerência das políticas no setor da educação, considerou fundamental o planeamento da formação e qualificação profissional. Antes de abrir cursos. Porque «não pode ser apenas o que as pessoas querem e gostam», isto é, sem verificar se «têm saída» em termos de mercado de trabalho. «Realismo» comungado por Élia Gouveia já que o currículo terá de se adaptar às «necessidades que temos».
Francisco Vasconcelos, por seu lado, defendeu a conciliação entre a realidade local e as «preferências dos alunos», enquanto a docente da Universidade da Madeira, perante a evidência de que a formação inicial não garante emprego para a vida, as pessoas devem «escolher a formação de que gostam» – e a partir daí fazer outras formações mais específicas ou especializações consoante o percurso de vida e profissional de cada um.
O presidente da Associação Santana Cidade Solidária, para quem é possível fazer a adaptação curricular às necessidades locais, neste caso da população de Santana, dando como exemplo cursos no âmbito da Rota da Laurissilva e no apoio à terceira idade, chamou a atenção para o facto de que há «outras competências fundamentais além da competência técnica». E que a formação deve conciliar o local e o global, já que somos cidadãos do mundo, posição partilhada por Glória Gonçalves. Rui Moisés, deixou, por fim, uma nota positiva sobre o futuro, sendo preciso, além de «acreditar e trabalhar mais», uma estratégia global, que envolva instituições públicas, empresários e escolas, para o desenvolvimento local.
Recorde-se que a primeira tertúlia foi realizada em São Vicente, no dia 30 de outubro de 2015. Conheça as ideias principais que foram expostas e debatidas: Dotar os jovens com ferramentas que permitam lidar com os desafios locais.
Este Ciclo de Tertúlias pretende alcançar vários objetivos: o contacto direto com a realidade por parte do SPM; uma maior proximidade aos docentes e à comunidade educativa de cada concelho; o debate sobre os caminhos pelos quais se fará avançar a educação no futuro, de acordo com as especificidades locais.
São escolhidos ambientes informais e descontraídos, nos quais, a par da troca de ideias, haverá também oportunidade de convívio.
Procura-se envolver as forças vivas e decisoras de cada concelho que tenham a amabilidade de se juntar aos educadores e aos professores, acolhendo os seus contributos para o setor da Educação e, consequentemente para o progresso da nossa sociedade.
A participação neste Ciclo de Tertúlias é gratuita, aberta a sócios e não sócios do SPM, mas sujeita a inscrição prévia online, sendo atribuído, posteriormente, um Certificado de Presença./NS (texto e fotografias)
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CICLO DE TERTÚLIAS NA RAM, o que se segue:
3ª Tertúlia: “Refletir sobre a Educação Especial” – Zona Oeste (19 fevereiro) *
4ª Tertúlia: “A Cultura na Educação” – Machico (15 abril) *
5ª Tertúlia: “A importância da Educação nas regiões ultraperiféricas” – Porto Santo – (20 maio) *
6ª Tertúlia: “A Educação através das Artes” – Funchal – (8 julho) *
* a anunciar brevemente