Não é, pois, irreal e alarmista, mas pleno de objetividade, afirmar-se que o pior está para vir
Se inquirirmos a população em geral sobre a ideia que tem dos professores, uma percentagem significativa insistirá no mito de uma profissão em que se trabalha pouco (não mais de 22 ou 25 horas por semana) e descansa muito (3 meses de férias). Obviamente que uma profissão com estas caraterísticas estaria a abarrotar de profissionais e teria uma lista de espera para nela ingressar sem fim. Ora, como todos sabemos, não é isso o que se passa com a profissão docente, já que a falta de profissionais se manifesta em muitas escolas e os cursos que lhe dão acesso estão quase vazios.
Porquê esta contradição entre a imagem de uma profissão privilegiada e a frieza da realidade? Tenho para mim que a razão é os jovens candidatos aos cursos superiores conhecerem muito bem a realidade: eles sabem que os seus professores não só têm de lidar, diariamente, com situações de indisciplina e desinteresse de muitos alunos, como estão submetidos a uma enorme pressão e a horários verdadeiramente extenuantes, já que o trabalho invisível aos olhos da opinião pública é tanto ou mais do que o que passam em atividade nas escolas. É, em grande parte, por isso, que a realidade desmente a imagem estereotipada da profissão docente; é por isso que o número de professores que são formados anualmente não chega a vinte por cento das necessidades reais das escolas.
Não é, pois, irreal e alarmista, mas pleno de objetividade, afirmar-se que o pior está para vir, porque, nos próximos 10 anos, cerca de metade dos professores e educadores atingirá a idade da reforma. Urge, assim, perguntarmo-nos se queremos uma educação orientada pelos professores e educadores ou assente em ferramentas de inteligência artificial.
Para o SPM, a resposta é clara: não há verdadeira educação humana sem estes profissionais, pelo que todos devemos encarar o problema na sua verdadeira dimensão e procurar resposta para ele, porque, com a aceleração do número de docentes a atingir a idade da reforma e com a gritante incapacidade de formarmos uma nova geração de professores e de educadores, a situação vai agravar-se muito nos próximos anos. Esqueçamos, por isso, essa ideia bizarra de uma classe profissional privilegiada e concentremo-nos na procura de respostas adequadas.
Por isso, há muito que o SPM não só tem criado momentos de reflexão, como tem feito propostas realistas, na tentativa de antecipar respostas eficazes na mitigação deste problema. Dessas propostas, destacamos a urgência da vinculação de todos os professores e educadores contratados profissionalizados a exercer no presente ano letivo. Dos momentos de reflexão, destacamos o Encontro do professor especialista ao professor canivete suíço, recentemente realizado, e o Inquérito sobre o envelhecimento e o desgaste dos professores e educadores da RAM, que se iniciou ontem.
Da nossa parte, há propostas e trabalho; que haja, também, vontade política para que a educação humana seja feita por humanos.