E a escola como sairá desta crise? Qual o seu papel no futuro da humanidade?
Está aberta, oficialmente, a época de todos os balanços de 2020, que terá, pela certa, independentemente da sua natureza, um denominador comum: o novo coronavírus e o seu impacto. Não estou para aí virado, porque, por mais pertinente que seja olhar par trás e aprender com o que se passou, neste momento, preocupa-me bem mais o futuro.
Não é uma fuga para a frente com a intenção de ignorar os problemas do presente. É, antes, uma tomada de consciência de que este presente, que veio para durar, há de deixar bem mais marcas do que aquelas que nos querem fazer crer. Não tenhamos ilusões, este novo normal veio para ficar por tempo indeterminado e não acabará, antes se transformará numa nova fase da vida humana que não vislumbramos ainda com clareza. Neste momento, só vemos aspetos acessórios (máscaras, gel desinfetante, termómetros nos locais públicos, filas para acedermos a serviços básicos, vacinas da mais requintada tecnologia produzidas em tempo record…) da realidade futura. Certamente, acompanhar-nos-ão na transição para o novo período, mas, da essência desse, tudo nos escapa.
Perante a incerteza e olhando 2020 pelo retrovisor, tenho saudades da banalidade da vida que o vírus nos roubou; tenho saudades da vida não programada; de entrar onde quiser, sem olhar se ali se respeita o afastamento físico, se todos cumprem as regras de segurança sanitária. Tenho saudades do tempo em que éramos, naturalmente, humanos. Esta saudade do passado pré-covid projeta-se, cheia de dúvidas, em saudade futura: tenho saudades de voltar a viver a vida como ela era. Este tempo de casulo há de acabar, mas pode metamorfosear-nos em seres menos livres, seres mais isolados e mais fechados; seres com receio do contacto com o outro; seres que se olham como ameaça recíproca.
E a escola como sairá desta crise? Qual o seu papel no futuro da humanidade?
Difíceis respostas, estas. Ninguém está preparado para as desvendar, tanto mais que, neste momento, a sociedade está à deriva; é uma embarcação sem controlo sobre o seu destino, arrastada, sem rumo certo, pelas forças da natureza.
Ainda assim, há sinais que são autênticos alertas que nos poderão ajudar a chegar a terra segura, se não os desprezarmos. A escola não precisa de novos papéis; a escola só precisa que a deixem centrar-se no que ela é: local onde aprendemos a ler e a compreender o mundo, fazendo nossa a sabedoria de todos os que nos antecederam. A escola recebe do passado para dar ao presente e ao futuro, a multiplicar, mas, para tal, não pode ser manietada pelas funções que dela exigem, mas que a desvirtuam.
Se libertarmos a escola das amarras que a condicionam, podemos encarar o futuro com o otimismo de quem sabe que “atrás de tempos vêm tempos, novos tempos hão de vir” e com a certeza de que a mudança será positiva.