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MEA CULPA

Ontem, durante a ação de luta “Por Assembleia Legislativa Regional aberta e ao serviço dos cidadãos”, fui portador de um cartaz que continha um erro de grafia, que, apesar de não ser da minha responsabilidade, teve visibilidade pública. É evidente que, não só lamento o facto, como o assumo toda a responsabilidade.

        Julgo que a ninguém de boa-fé e intelectualmente sério passará pela cabeça que tenha sido eu o autor daquela frase ou que não saiba escrever corretamente aquela palavra. O que aconteceu foi que, na azáfama da concretização da iniciativa, aquele cartaz veio ter às minhas mãos, sem que me passasse pela cabeça a necessidade de fazer a sua revisão ortográfica. Com certeza que há um responsável, mas, como ele não cometeu nenhum crime, não o vou expor à barbárie das redes sociais, já que passariam a ter duas vítimas em vez de uma e a carnificina seria bem maior. Para os canibais dessas redes, aqui estou eu, de peito aberto, para o sacrifício. Sim, em 24 horas já deu para ver que os que não gostam da ação do SPM estão a aproveitar-se da situação para me sanear e para pôr em causa a credibilidade do SPM. Por mim, estejam certos, continuarei em frente, olhando olhos nos olhos quem suportar o meu olhar. Não esperem ver-me comprometido a olhar, a tremer de medo e de vergonha, o chão. Na verdade, não preciso de me levantar, porque não caí. Tropeção pequeno, este.

        Termino com a terapia do humor: já que a Assembleia Legislativa Regional não nos ouviu, enquanto falamos e escrevemos corretamente, que nos oiça, agora, que repararam em nós, não pelas verdadeiras razões, mas por causa de um h, que dizem ser mudo, mas que, afinal, grita bem alto e aflige tanta gente.

        Em jeito de reflexão deixo um singelo texto de José Luís Peixoto, inspirado numa das parábolas do Grande Mestre, que me tem ensinado muito e me leva a não dar visibilidade a tantos erros nas páginas virtuais de muitos dos que agora pretendem apoucar-me. Porém, podem estar certos de que não me meço pela escala da sua pequenez. Aqui vai, não se escandalizem:

Eram estudantes do quarto ano que seguravam um escritor pelo braço. Traziam pedras nas mãos e raiva nos rostos. […] O escritor tinha a cabeça baixa. Ninguém podia ver e ninguém queria ver a mágoa acesa por detrás do seu rosto. De novo se ouviu a voz grossa desse estudante que disse: «senhor professor, este homem publicou na semana passada uma crónica com gralhas; o professor decano que se aposentou no ano passado, na sua lei, mandou-nos apedrejar tais homens; e o senhor professor, o que nos diz?». Sentado à secretária, ficou suspenso no silêncio. […] Todos o olhavam e todos esperavam a sua voz no momento em que disse: «quem de vós nunca tiver deixado passar uma gralha, seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra.» E, inclinando-se novamente sobre a secretária, voltou a olhar para os seus papéis. Sem olhar, ouviu as pedras caírem abandonadas no chão de madeira e ouviu os passos dos estudantes do quarto ano a saírem envergonhados. […] Levantando-se e apoiando as mãos na secretária disse-lhe: «escritor, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ele respondeu: «ninguém, senhor professor». Ouvindo isto, disse-lhe: «nem eu te condeno; vai e, doravante, presta mais atenção ao prontuário ortográfico.

        Aos muitos que não alinham pelo parecer, mas que procuram a verdade, que se têm solidarizado comigo, muito obrigado. Garanto-vos que nada mudou no mundo e que, até, a pandemia continua a ameaçar o nosso futuro, apesar de, com esta ninharia, pretenderem fazer crer o contrário.

        Viva o SPM!

        Vivam os professores!

Francisco Salgueiro de Oliveira

Coordenador do SPM

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