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Classe do(c)ente exige respostas

“Saúde no trabalho sem doenças profissionais” foi o tema do mês de maio escolhido pela Comissão de Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN, da qual a FENPROF faz parte, no âmbito do Semestre da Igualdade.

Em Portugal, os riscos profissionais na área do ensino têm merecido pouca atenção, embora se assista a um aumento de notícias que envolvem a saúde dos educadores/professores. De facto, a natureza da atividade docente e a qualidade das condições do seu exercício favorecem a ocorrência de problemas ao nível da saúde mental, das patologias da voz e das vias respiratórias e dos distúrbios osteomusculares, entre outros. 

Desde há muito que o esgotamento emocional vem ganhando relevo entre as preocupações dos docentes, uma vez que condiciona profundamente a qualidade do exercício profissional e das relações com os outros, estimando-se que afete um elevado número de educadores/professores. 

“Os processos de saúde e doença do trabalho são uma das questões públicas chave e um dos problemas sociais fulcrais para a interpretação, e a transformação, da vida de diversas sociedades no século XXI”, lê-se na introdução de um estudo sobre as condições de vida e de trabalho na educação, promovido pela FENPROF, para conhecer melhor o impacto sintomal do contexto laboral da educação em Portugal. 

Porque é que uma grande parte dos educadores/professores se sentem esgotados no final de um dia de trabalho? O que está na base do sentimento de exaustão emocional que revelam? O que provoca o stresse laboral no ensino? Como explicar um mal-estar tão difuso e generalizado no exercício de uma profissão vital? – estas são algumas das questões a que o estudo, coordenado pela investigadora Raquel Varela, pretendeu dar resposta. 

Muito para mudar. Responderam ao inquérito cerca de 18.000 educadores/professores – mulheres na esmagadora maioria (77,8%).  

Com as respostas obtidas, de que se conhece um primeiro relatório, os investigadores concluíram que:

  • 75% evidenciam exaustão emocional, com sinais preocupantes em 48% dos casos;
  • 27,3% apresentam sinais críticos ou extremos de exaustão emocional;
  • 84% desejam aposentar-se antecipadamente.

Este estudo permitiu concluir que existe uma ligação direta entre o índice de burnout e a idade, aumentando significativamente a partir dos 55 anos. 

O estudo mostra, por outro lado, que o desgaste emocional decorre, em grande medida, do afastamento entre as expectativas docentes e a realidade do exercício profissional e da organização do trabalho: modelo de gestão autoritário, escassez de recursos, horários sobrecarregados, indisciplina, burocracia…  

“É preciso mudar a organização e a orientação da escola, para voltar a ser um lugar onde o conhecimento universal é ensinado aos alunos”, considera Raquel Varela. 

A equipa de investigadores considera, por outro lado, que a valorização da carreira é determinante. De facto, a precariedade laboral e/ou o bloqueio da carreira determinados por políticas de austeridade, contribuem, também, para os preocupantes índices de exaustão verificados na profissão docente.  

A falta de reconhecimento público e institucional do seu trabalho é outra das causas do profundo mal-estar docente identificadas no estudo, que, contudo, releva a elevada dedicação aos alunos demonstrada por educadores e professores.    

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