Seria de esperar que todos aceitássemos a doença, sobretudo quando a vemos atingir os outros, como algo tão natural que não deveria merecer senão compreensão e solidariedade por parte de quem está saudável. Felizmente, é isso que acontece em quase toda a sociedade, mas não em toda.
Como diz o povo: “Ninguém está livre da doença!”. Ora, nos últimos meses pudemos verificar isso em algumas figuras públicas, quer nacionais quer regionais. Lembro aqui, a título de exemplo alguns casos bem recentes: o ministro da educação, o Presidente da República e o presidente do Club Sport Marítimo. Se não fossem as grandes disparidades no acesso aos cuidados de saúde, poderíamos dizer da doença o que o povo diz da morte: “É igual para todos”.
Penso que ninguém no pleno poder das suas faculdades mentais poderá discordar, fundamentadamente, das afirmações de senso-comum que referi até agora. Logo, seria de esperar que todos aceitássemos a doença, sobretudo quando a vemos atingir os outros, como algo tão natural que não deveria merecer senão compreensão e solidariedade por parte de quem está saudável. Felizmente, é isso que acontece em quase toda a sociedade, mas não em toda. Veja-se, como exemplo mais notório, o que acontece em caso de doença dos professores! Quantas e quantas notícias se produzem anualmente sobre as baixas da classe docentes. Então, entre os meses de setembro e outubro, não podem faltar os artigos de investigação jornalística que provam esse grande escândalo que deveria merecer primeiras páginas e abrir telejornais em todo o mundo civilizado: não há ano letivo em Portugal que se inicie com 100% dos professores saudáveis. Depois, a coisa quase cai no esquecimento, até que os pais se revoltam contra a falta de professores em algumas escolas. Novas investigações e novo escândalo: então, não é que os professores também adoecem ao longo do ano? Como pode lá isso ser?
– Alguém tem de fazer alguma coisa! – ouve-se, amiúde, não se percebendo se isso significa que se deveria ir buscar o doente a casa ou ao hospital para pô-lo a trabalhar, ou se se trata de uma exigência para que a tutela o substitua por um colega saudável.
Pois é, os professores, ainda que não se importassem, não conseguem contrariar o inevitável: “Ninguém está livre da doença!”. Por isso, exigimos o direito não só a adoecer, mas também a não trabalhar nesse estado, a poder faltar ao trabalho para cuidar da saúde, a dar descanso ao corpo para poder recuperar. Exigimos direito ao que é nosso de direito: à doença. Já que não podemos ver-nos livres dela, queremos gozá-la na sua plenitude!
Esta reivindicação faz tanto mais sentido quanto mais nos recusarem um regime de aposentação antes dos 66, dos 67, dos 68, dos 69 dos 70… É a lei da vida: quanto mais velhinhos, mais precisaremos dos atestados, porque esta não é uma vida de perna cruzada, como muitos pensam.
Lamentamos, mas não podemos prescindir deste direito!