A escola não foi criada para ser depósito de crianças e jovens; antes existe para potenciar o seu desenvolvimento a todos os níveis
Há poucos anos, o verão era verão até ao fim, ou seja, até ao dia 22 de setembro; agora, o verão acaba no fim de agosto, para prepararmos, logo no início de setembro, o regresso à escola.
Que a escola anda em contraciclo com a vida já, há muito, constataram os que refletem sobre ela, mas que a escola também anda em contraciclo com a natureza é coisa mais recente. Na verdade, repare-se: enquanto o verão se vai estendendo por setembro e outubro fora, com os dias quentes cada vez mais frequentes, as crianças e jovens são obrigados a largar, à pressa, as brincadeiras de verão, logo no início de setembro, para voltarem contrariados à rotina escolar.
É certo que a escola é e continuará a ser fundamental para a formação das gerações mais jovens, mas há muita vida para além dela. Por isso, deixemos as crianças aproveitar os encantos do verão até ao fim. Porquê a pressa de voltar à escola?
Curiosamente, a geração que, hoje, decreta a abertura das aulas no início de setembro, quando jovem, só voltava no dia 1 de outubro. Até lá, tinha tempo para apanhar sol, mergulhar, correr, jogar à bola e calcorrear as serras até mais não poder. Agora, esquecida do prazer que isso lhe dava e inconsciente de quanto esse tempo foi importante para a sua formação integral, manda todos para as salas de aula, enquanto, lá fora, os encantos do verão continuam a brilhar.
Dir-me-ão muitos que tem de ser assim, porque os pais têm de regressar aos seus trabalhos. Dir-lhes-ei que não tem, não, de ser assim, tanto mais que a escola não foi criada para ser depósito de crianças e jovens; antes existe para potenciar o seu desenvolvimento a todos os níveis; existe para os ajudar a pensar, a criar, a manifestar as suas emoções através de formas simples ou artísticas; a desenvolver o prazer pelo conhecimento, pela cultura, por tudo o que as rodeia.
Tudo o mais são imposições sociais que, ainda que importantes, não devem, nunca, pôr em causa a sua missão primordial. A escola, como instituição social, deve ser sensível às preocupações dos alunos e das suas famílias, mas não pode, obviamente, ser manietada de tal forma que a sua essência seja posta em causa.
É certo que a escola tem de evoluir, mas não para ser manietada pelos interesses de uma sociedade focada no trabalho e pouco preocupada com os direitos das crianças e dos jovens e com o seu desenvolvimento harmonioso.
A escola tem de se libertar das amarras centenárias que fazem com que “roube a infância às crianças”, nas palavras de Eduardo Sá. Não podemos continuar obcecados com a ocupação contínua das crianças, de manhã à noite, sete dias por semana e durante doze meses por ano.
A infância é para crescer, devagarinho, sem pressões; a adolescência é para continuar a crescer, devagar, e para errar muito; a juventude é para crescer, mais um pouco, descobrir novos horizontes e encarar a vida com otimismo.