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Quem quer ser professor?

Nos últimos 40 anos, nunca se falou tanto da falta de professores como agora. Mas será que esse discurso corresponde à realidade ou é demagogia dos sindicatos, com o objetivo de pressionarem a classe política a aprovar leis que beneficiem estes profissionais?

A resposta para o Sindicato dos Professores da Madeira é clara: há mesmo uma falta acentuada, com tendência para se agravar nos próximos anos. Bem podemos argumentar que a diminuição demográfica tenderá a normalizar a situação. No entanto, há dois fatores que não só anularão o fator demográfico como o pulverizarão num ápice: o aumento exponencial das aposentações dos docentes e a incapacidade das universidades atraírem alunos para os cursos via ensino, em número suficiente para colmatar as necessidades reais. Na verdade, quando constatamos que essa capacidade está, apenas, um pouco acima dos 20 % das necessidades, não podemos deixar de ficar alarmados.

O pior é que a tendência não dá mostras de vir a ser invertida, tanto mais que uma percentagem acentuada (63 %) dos atuais docentes afirma que, se pudesse, mudaria de profissão, como se constatou no Estudo Sobre o Bem-Estar, Envelhecimento e o Desgaste dos Docentes da RAM, recentemente realizado por uma equipa do Instituto Superior Técnico de Lisboa, a pedido do SPM. Por outro lado, cerca de 60% afirma que não recomendaria a docência a um amigo ou familiar. Isto porque as exigências profissionais dos docentes são demasiado elevadas, como afirmam 63 % dos inquiridos.

Tais resultados contrariam o mito duma profissão docente privilegiada, em que se trabalha pouco, ganha muito e se goza de três meses de férias. Porque não convencem os jovens estes argumentos? Porque eles sabem não corresponder à verdade.

A realidade é que vida de professor exige uma grande disponibilidade a vários níveis, como aceitar abandonar a sua terra e procurar estabilidade noutra, ainda que longe dos familiares e amigos. Foi o que aconteceu com uma parte muito significativa de docentes do continente que aceitaram vir trabalhar para a RAM, que os acolheu de braços abertos e lhes deu estabilidade profissional. O problema é que, com a enorme falta de professores no continente, esses docentes encontram condições para regressar, com muitas vantagens. É, pois, natural que muitos tenham concorrido à vinculação no território continental e que aceitem voltar às suas terras. Por agora, foram, pelo menos 151; para o ano, serão, igualmente, muitos e, nos anos seguintes, muitos mais.

Mas há medidas que os podem fixar à RAM: acabar, a nível regional, com as injustiças que persistem na carreira docente; garantir a estabilidade aos mais novos, através de uma rápida vinculação; dar incentivos aos jovens que optem pelos cursos via ensino e atrair novos profissionais, como os formados nas mais diversas áreas científicas, oferecendo-lhes condições para fazerem a formação pedagógica.

Se assim não for, o resultado será catastrófico para o modelo de educação que temos. Haverá outro melhor para as nossas crianças e jovens? Não parece, mas só o futuro poderá responder.

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