Felizmente, ao fim de muita insistência e persistência, houve abertura do Secretário Regional de Educação
Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe d’asa…
[…]
(Mário de Sá-Carneiro)
O que tem o poeta Mário de Sá-Carneiro a ver com a proposta das reduções da componente letiva que a Secretaria de Educação propõe para os educadores e professores do 1.º ciclo?
Quase tudo e quase nada. Quase nada, porque as suas preocupações existenciais e a realidade que viveu no início do século XX nada tinham a ver com a realidade destes profissionais; quase tudo, porque ninguém melhor do que Mário de Sá-Carneiro exprimiu por palavras a frustração de não alcançar o que estava tão próximo e se anunciava como certo.
Na verdade, as expetativas fundamentadas que se foram consolidando, ao longo de um processo negocial que se vinha arrastando há anos, apontavam para o saneamento de uma injustiça que mancha o Estatuto da Carreira Docente e que parecia não ter fim. Felizmente, ao fim de muita insistência e persistência, houve abertura do Secretário Regional de Educação para dar resposta a esta justíssima reivindicação dos educadores e dos professores do 1.º ciclo. O SPM saúda, obviamente, essa abertura, porque, para além de se tratar de uma questão de justiça, o que está em causa é o combate ao desgaste dos docentes, cuja média de idades se vai acentuando aceleradamente, por falta de entrada de novos professores no sistema educativo.
Nunca é demais lembrar que este é, na perspetiva do SPM, o mais grave problema que afeta os profissionais da educação, incluindo aqui os assistentes operacionais, que padecem do mesmo problema. É, pois, urgente e necessário encontrar respostas para alterar esta realidade. Na verdade, não é de espantar que, ao fim de 3 ou 4 décadas de trabalho diário com dezenas de crianças cheias de energia e pressa de crescer, se façam sentir os efeitos de uma exposição tão intensa e desgastante.
É por isso que o SPM vem chamando a atenção para a gravidade e extensão deste problema e tem proposto medidas que o possam atenuar. A redução da componente letiva dos colegas do 1.º ciclo e do pré-escolar é um exemplo disso. No entanto, infelizmente, a proposta apresentada ficou aquém do esperado e do necessário.
É natural, assim, que estes docentes, após tantos anos de inteira dedicação e de verdadeiro cansaço, se sintam desiludidos, porque não se foi tão longe como mereciam e como a gravidade do problema impunha. A diferença para o que se propõe e para o que é reivindicado pode parecer pequena, mas é a suficiente para deixar um travo amargo no orgulho profissional.
No entanto, o SPM continua a ter esperança de que a SRE venha a alterar a sua posição para que, em setembro próximo, os educadores e os professores do 1.º ciclo possam iniciar o novo ano letivo, sem o amargor provocado pela desilusão de terem ficado tão próximo do que lhes é devido.