Há quanto tempo (con)vivemos com a pandemia do novo coronavírus? Em Portugal, desde março de 2020, ou seja, há pouco mais de ano e meio. No entanto, parece que tudo começou há muito mais tempo. É a prova de que o ser humano tem uma capacidade quase inesgotável de se adaptar às circunstâncias, sejam elas boas ou más. É a prova, também, de que a memória, essencial para a aprendizagem humana, nos pode atraiçoar.
Vem este preâmbulo a propósito da ameaçadora tríade que afeta o sistema educativo: o desgaste dos profissionais da educação, o seu envelhecimento e a falta de professores. Há muito que o Sindicato dos Professores da Madeira vem alertando para a formação desta depressão que pode levar à tempestade perfeita, que poderá pôr em causa o que foi construído nos últimos 40 anos.
Bem sei que, a quem está de fora ou a quem tem responsabilidades governamentais, esta é uma conversa de cheiro corporativista. Pois, pois, esses mesmos foram os que, pouco antes da pandemia, diziam que, nas próximas décadas, nunca haveria falta de professores na RAM, porque o decréscimo demográfico seria tão grande que a perda de postos de trabalho daí resultante jamais seria compensada pelo aceleramento das aposentações. Acertaram no óbvio: é inegável a diminuição dos nascimentos; mas erraram, completamente, a outra parte da equação e, consequentemente, o resultado final. Consulte-se a comunicação social de há dois/três anos e leia-se o que foi dito e escrito sobre esta equação.
Gostávamos de não ter razão, mas o que, já então, dizíamos está a concretizar-se: a falta de professores já é uma realidade preocupante e agravar-se-á nos próximos anos letivos. É tempo, pois, de tomarmos medidas corajosas para inverter o ciclo e evitar que a tempestade se confirme.
Com vista a isso, propõe o Sindicato dos Professores da Madeira, como tratamento de choque, exigido em situação de catástrofe:
- a vinculação imediata de todos os docentes a exercer neste momento;
- criação de uma bolsa de professores com os docentes que, ainda que desempregados neste momento, trabalharam nos últimos anos na RAM;
- dar a possibilidade de os docentes optarem pela isenção da componente letiva, a partir dos 60 anos de idade;
- criação de um regime de aposentação para os docentes.
Podem parecer contradição as duas últimas propostas, face à evidente falta de professores, mas é antes uma parte da equação que não pode ser esquecida: muitos dos docentes que trabalham há mais tempo estão em rutura ou pré-rutura, pelo que, se não forem substituídos, atempadamente, a tempestade em formação não deixará pedra sobre pedra. Na verdade, já todos perceberam que os três elementos daquela tríade estão de tal forma intrincados que, se não forem resolvidos em conjunto, a qualidade da educação estará em causa, a breve prazo.
Salvemo-la, enquanto é tempo!