Ao longo da História, a profissão docente atravessou muitos momentos que tornaram esta profissão numa das mais importantes e respeitadas, cujo valor é incomensurável para o futuro da sociedade. Muitos destes momentos assumiram o papel de conquistas, que permitiram a dignificação da carreira e a assunção da sua relevância; outros, revestiram-se de formas de luta, de reivindicação e de recuperação de direitos. Em nenhum destes momentos, a classe docente deixou de exercer o seu papel com profissionalismo, com exigência e rigor e, acima de tudo, com o sentimento de entrega ao processo de ensino e aprendizagem.
Hoje, a classe docente é posta à prova, uma vez mais e, uma vez mais, consegue demonstrar e manifestar que, quem envereda por esta profissão, está ciente das dificuldades que tem de enfrentar e dos constantes obstáculos que tem de ultrapassar, quer eles venham associados à sua sala de aula ou aos inúmeros labirintos técnico-burocráticos de que, infelizmente, se reveste o ensino.
Hoje, mais do que nunca, os docentes são chamados a assumir um papel fulcral de motor dinamizador de um setor da sociedade. Ninguém questionou se gostariam de assumir esse papel, porque quem lhes deu essa tarefa sabe que estariam à altura (embora nem sempre o demonstrem!). Ninguém questionou se estariam os docentes recetivos a abrir a porta das suas casas para acolher todos os seus alunos – mas eles acolheram-nos. Ninguém questionou se teriam os docentes as condições técnicas e tecnológicas para dar resposta a esta nova metodologia de ensino à distância – mas eles arranjaram soluções. Ninguém questionou se conseguiriam os docentes reinventar as suas formas de ensinar, adaptando as suas metodologias aos contextos familiares dos seus alunos – mas eles reinventaram-se.
É verdade que ninguém questionou os verdadeiros envolvidos neste processo, e não falo apenas dos docentes; pressupôs-se que todos seriam capazes de reformular a sua atuação e ajustar-se às circunstâncias.
Pois bem, não se enganaram. Está a ser feito o possível e o impossível para que a tecnologia minimize os efeitos que a ausência física provoca. Nada nem ninguém poderá substituir a presença de um professor ou educador nas salas das nossas escolas, pois o calor humano, a interação, a negociação, a animosidade, o estímulo criativo e motivacional são resultados de uma ligação que se estabelece desde o primeiro dia de aulas. Esse conhecimento mútuo esbarra num ecrã de computador ou de telemóvel, por muito que nos esforcemos para que isso não se demonstre.
E eis chegado o momento pelo qual ansiávamos: o regresso premente às escolas. As medidas graduais de desconfinamento prevêem a abertura de determinados ciclos de ensino e esta questão coloca em desequilíbrio as emoções: será que este desconfinar é sinónimo de arriscarmos o que temos vindo a construir? Colocará em causa todo o esforço demonstrado ao longo destes últimos meses?
Será necessário darmos um passo de cada vez; confiar que todas as questões de saúde, higiene e segurança serão salvaguardadas, de modo a que possamos regressar sem medo, com restrições, é certo, mas convictos de que mais uma batalha será travada. Ninguém nos questionou se estamos dispostos a isso ou sequer se concordamos…Sabem porquê?! Porque eles sabem que nós vamos conseguir ultrapassar mais esta etapa e ficar, uma vez mais, com o papel de relevância dos professores, gravado na História.