O dia começa não tão cedo como antes. Continuo a preparar os pequenos-almoços, a acordar os miúdos para mais um dia de aulas, a vesti-los e a orientá-los para o novo dia. O marido já foi trabalhar, mas nós só vamos trabalhar daqui a pouco, no entanto não saímos de casa.
De repente, começa a azáfama…são 9 horas. Cada um fica no seu espaço. Um no quarto, outro na sala e eu no escritório. De computador ligado, preparo os materiais necessários (já feitos anteriormente) para dar a minha aula online. Contudo, o meu pequenino chama: “Mãe, quero ver o TOPS!” e lá vou eu colocar os desenhos animados para que ele sossegue e me deixe trabalhar. Volto a sentar-me para continuar e chama o mais velho: “Mãe, tenho dúvidas!” e lá vou, escadas acima, para ajudá-lo no que é preciso.
Volto a sentar-me e já tenho mensagens para responder de alunos, de pais com dúvidas de todo este processo que estamos a viver. Começo a responder…mas já está na hora das aulas na TV e eu tenho de ver para acompanhar o meu mais velho e saber quais são exatamente as atividades que vão surgir naquele programa. Sim, porque os professores não têm acesso às filmagens antes de acontecer, só sabem o que irá ser pedido ao mesmo tempo que os alunos.
Durante este momento, estou a visualizar a TV, a acompanhar o meu filho e a ser chamada pelo casula e lá vou escada abaixo.
Acabadas as aulas na TV, está na hora da minha aula online com a minha turma, mas antes tenho de orientar o meu filho mais velho nos próximos passos a seguir. Desço a escada para voltar ao escritório, o meu filhote chora que quer brincar. E agora? Tenho aula para dar? Os alunos estão à espera? Vou atrasar-me? Mil e uma coisas me passam pela cabeça.
Vou pedir ao mais velho para parar as suas atividades, porque ainda não começaram as suas aulas online, para ficar com o seu irmão a brincar para a mãe poder dar a sua aula.
Dou a aula entre falhas de som, de imagem e de rede, em alguns momentos, com alunos a ver uns por computador, outros por tablet e ainda alguns pelo telemóvel. Quero chegar a todos, mas não consigo, pelo menos, naquele momento… naquela aula. Fico frustrada, cansada e triste, mas continuo a fazer telefonemas para tentar agilizar as situações técnicas com a ajuda dos meus colegas, de modo a que isto funcione.
Chegou a hora de almoçar, ele não teve tempo de terminar as suas tarefas nas horas previstas. O meu filho é muito responsável e o seu sistema emocional colapsou ao ver que não cumpriu o pretendido. Ele chorou e eu tentei acalmá-lo, fazendo-o entender que tem o resto do dia para o fazer e ele só me diz: “Mãe, mas tenho dificuldades. Preciso de ti!”. O meu coração parou naquele momento. Pedi-lhe para almoçar e de seguida fui ajudá-lo. Depois voltei ao computador para continuar os telefonemas, a preparação das aulas e as correções dos trabalhos.
São 20 horas, desligo o computador para estar a próxima hora com a minha família. Mas entretanto, continuo a receber mensagens, continuo a tentar responder dentro do possível, de modo, a acalmar e minimizar as dúvidas que continuam a pairar.
Sou professora com muito gosto, apesar de todas as coisas que dizem da nossa profissão, mas neste momento sou tudo de uma só vez, tenho todo o tempo do mundo, mas sinto que não tenho tempo nenhum.