Não vivemos tempos fáceis. O encerramento das escolas, todas as restrições ao nosso dia a dia… E o medo. O medo de que não aconteça só aos outros. Que o “bicho” chegue à nossa porta (ou daqueles que nos são queridos) e deixe estragos.
Ora bem, a nossa família já está em casa desde o dia 13 de março.
Nessa sexta-feira, de manhã, dei as últimas aulas e preparei os alunos para o trabalho nas próximas semanas, feito a partir de casa, mas sobretudo para o dever cívico de ficar em casa, quietos, sem correr riscos. Tinha sido colocada há duas semanas.
Ainda nem conseguia associar os nomes dos meus alunos às suas caras quando, numa quinta-feira à noite, soube que teria que começar a dar aulas numa plataforma online, com três dias para operacionalizar toda essa mudança. Por muito à vontade que estejamos com o uso das novas tecnologias, e por muito práticos e resilientes que sejamos, esta é uma situação excecional que nos coloca muita pressão: temos de ser bons profissionais, bons pais, esposos, “donos de casa”… Tudo ao mesmo tempo, 24 horas por dias, 7 dias por semana, por tempo indeterminado.
Têm sido dias tão atípicos que nem me dou ao trabalho de perceber se bons ou maus… São diferentes. Assistimos, nas redes sociais, ao desfilar de receitas, passatempos e outras formas de combater o tédio, sempre acompanhadas de divagações sobre o tempo que agora sobra para fazer aquilo de que mais gostamos, para isto e para aquilo. Juro que tento, mas não consigo esticar o meu tempo nestes dias. Certamente tenho qualquer upgrade em falta.
É certo que passo todo o dia com a minha filha e com o meu marido. É certo que continuo a falar com os meus familiares que, lá longe, no continente, vivem os mesmos receios que nós. Mas não chega! As notificações das plataformas são uma constante, quase tão constante como o Panda, a Masha e a Xana Toctoc… É preciso andar atrás da bebé, preparar materiais, responder a e-mails de alunos, arrumar brinquedos, andar atrás da bebé, preparar refeições, fazer algum exercício, limpar a casa… pelo caminho tentar ler, andar atrás da bebé, acalmar birras, pesquisar recursos, manter a sanidade mental… Ufa…
Vivemos tempos estranhos, de muita angústia perante o desconhecido, que muitos comparam a uma guerra. Na verdade, vivemos uma guerra, silenciosa, onde não ouvimos tiros, nem alarmes antes de bombardeamentos ensurdecedores. Não assistimos a alianças entre países, contra outras alianças do lado oposto das trincheiras. E embora estejamos todos unidos contra um desconhecido invisível, essa invisibilidade é o nosso maior problema. Ninguém sabe se está infetado. “Eu não tenho sintomas nenhuns, que é o que pensaram cada uma das (…) pessoas que hoje estão infetadas com esta doença, na Madeira” (Paulo Jardim).
Pela primeira vez na História lutamos todos juntos contra um inimigo comum. Vamos vencê-lo. Basta que cada um faça a sua parte. Fique seguro! Fique em casa!