De repente, quase de repente, algo invisível, inteligente, subtil, manhoso, mortífero, corta-nos as asas e sem querermos, nos remete para o íntimo de nós e da nossa casa! De repente, ficamos assim, parados, perplexos, confinados a nós mesmos e às paredes do nosso habitáculo. Nós, omnipotentes, presentes em todo o lado, em constante interação com os outros, enchendo ruas, praças, escolas, lojas, mercados, centros comerciais, cafés, restaurantes, centros de convívios, de repente, ficamos assim, parados, obrigados a ficar em casa, a conversar com nós próprios e com os que connosco coabitam, coisa que raramente fazíamos ou fazíamos a correr porque tudo era mais urgente e inadiável…
Sim, veio o vírus, esse personagem que parece saído dum livro de ficção e torna-se a mais funesta realidade, o nome mais pronunciado na atual circunstância das nossas vidas. Ele está cá mas não o vemos, ceifando vidas sem dó nem piedade, inimigo numa guerra que não conhece fronteiras, raças, credos, estatutos sociais, culturais e económicos. Torna-nos todos iguais! O primeiro passo, se aprendermos a lição que ele dolorosamente nos está a ensinar, para o tratamento ou eventual cura, do egoísmo, desamor, consumismo selvagem e falta de compaixão que afectam grande parte da humanidade
E o pobre planeta Terra que está nos seus limites de saturação e já não aguenta tanto ultraje? Finalmente respira um pouco com esta paragem forçada imposta a todos os humanos. Sim, porque o não humano, continua a sua vida normal e livre, porque o merecem! Os ares e as águas clareiam e dão-nos a esperança de que, se o homem quiser, pode construir um mundo novo, mais solidário, mais pacífico e mais saudável para todos os seres que nele habitam! Temos de aproveitar este tempo de pausa para aprender outra forma de viver, em retiro, mas refletindo sobre nós e sobre o mundo que temos de deixar para trás e o mundo novo que desejamos para nós e nossos descendentes. Este tempo não pode ser de solidão , tem de ser de reflexão e criação! Só assim, terá sentido! Talvez este vírus que nos obriga a parar, seja o remédio doloroso mas salvifico que a humanidade precisa!