Os dias que hoje vivemos são tudo menos “normais”.
Em pouco mais de uma dúzia de dias, passámos da nossa rotina habitual, em que íamos para a escola trabalhar, para uma situação de isolamento social, nada típica em profissões que, como a nossa, implicam o contacto com várias pessoas.
Dias em que acordávamos, nos preparávamos para um dia de trabalho, íamos para a escola, trabalhávamos com os alunos nas aulas e fora delas, partilhávamos ideias e opiniões com colegas, realizávamos tarefas inerentes à função (como, por exemplo, preparar materiais didáticos, corrigir testes e trabalhos, escrever sumários, definir medidas promotoras do sucesso ou organizar/dinamizar atividades diversas) e regressávamos a casa com o sentimento de dever cumprido (nuns dias mais do que nos outros) deram lugar a dias em que a casa e as suas paredes são a nossa sala de aulas, a reprografia, a sala de professores, o bar dos alunos/professores, o recreio, enfim, o nosso local de trabalho.
Se é horrível? Não é… Podia ser bem pior… Mas falta aquilo que, na minha opinião, é um dos elementos mais apaixonantes da nossa profissão – o contacto humano.
Podemos continuar a preparar materiais e enviar para os pais ou para os alunos, reunir com colegas através das mais diversas plataformas digitais, corrigir e avaliar trabalhos, lançar notas no PLACE e redigir balanços a enviar por email. No entanto, a situação atual priva-nos do olhar nos olhos do aluno, perceber que não está a perceber o que estamos a explicar e reformular de imediato a estratégia, ou compreender que algo não está bem com ele e, com um simples gesto, mostrar “Eu estou aqui para ti”, conversar com um colega que está a ter um dia menos bom e partilhar um sorriso amigo, ou até rir às gargalhadas com uma piada que alguém, do outro lado da mesa ou até da sala, disse, durante o intervalo e às vezes até durante a aula.
Por isso, afirmar que a nossa profissão se resume a “dar matéria” é o mesmo que dizer que um médico só “passa receitas”.
É então que surge aquele sentimento que dá sentido a estes estranhos dias e nos ilumina nos momentos mais escuros – a esperança – tão bem representada na bandeira portuguesa pela cor verde. Eu tenho esperança! Esperança que todos façam a sua parte e fiquem em casa, esperança que todos os que nos são queridos permaneçam saudáveis, esperança de voltar à escola e reencontrar alunos colegas e demais comunidade educativa, esperança de voltar àqueles dias chamados “normais”,…
A esperança caracteriza-nos enquanto povo e enquanto nação e é por isso que, hoje, mais que nunca, devemos mantê-la viva e acesa nos nossos corações!