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Maria Conceição Pereira – ANIVERSÁRIO SPM

ANIVERSÁRIO

SINDICATO DE PROFESSORES DA MADEIRA

O POETA CANTOU

O SOL NASCEU

O POVO ACORDOU

E TUDO ACONTECEU

O 25 de Abril devolveu aos portugueses e portuguesas, não só a liberdade, mas também o orgulho e a esperança, perdidos nos longos e difíceis 48 anos de fascismo.

Invoco aqui o cantor Luís Cília, exilado em França e que em 1972 já tinha editado um disco que continha uma canção com a seguinte letra:

Dia de Festa

Na Pátria Amada

Canção do Povo

Jamais cantada

Povo emigrado

Após a guerra

Ou exilado

Na própria terra

Chegam proscritos

Em caminhada

Do amargo exílio

Da pátria amada

 

Eu considero esta canção uma profecia, porque aconteceu tudo o que ele previu algum tempo antes.

 

Comecei esta intervenção com esta homenagem ao 25 de Abril, porque foi este acontecimento que nos abriu as portas da liberdade e nos deu o poder de conduzir as nossas vidas de forma inteligente, decente e consciente.

Foi a partir daqui que um grupo de professoras e professores do Ensino Primário, entre outras e outros, que muito calcorrearam caminhos e veredas desta ilha, começaram a trabalhar pela formação de um sindicato, coisa que o anterior regime nos tinha negado. Os sindicatos do sector privado que existiam na Madeira, eram dominados pelo poder político e patronal, excepto o Sindicato de Empregados de Escritório e Caixeiros, cujos trabalhadores conseguiram resgatá-lo em 1972. Os restantes batalharam muito no pós 25 de Abril para eleger novas direcções, correr com funcionários corruptos, etc. Mas sempre tinham um local com alguma mobília, ficheiros de sócios e demais documentação. Mas nós não tínhamos nada. Foi preciso partir do zero.

O primeiro local de funcionamento do nosso sindicato foi num cantinho da Escola Primária da Rua da Conceição. E mesmo esse poucochinho fazia engulhos ao Poder.

Quando eu fui leccionar para a Gonçalves Zarco, em Janeiro de 1976, há 12 anos que já não era professora. Quando lá cheguei, já havia uma delegada sindical, a Isabel Cordeiro e foi ela que me aceitou com sócia do SPZN. Já havia um sindicato informal, que redigiu um projecto de estatutos, foram analisados, discutidos, e aprovados, ponto por ponto, artigos e alíneas, na Escola Industrial e Comercial do Funchal, aos domingos à tarde, porque aos dias de semana havia sempre professores a trabalhar, de manhã, de tarde ou à noite. A discussão dos estatutos foi morosa e muito penosa. Mas, contra ventos e marés, chegámos ao fim desta tarefa.

Porém, as regras jurídicas exigiam formalidades. Entre outras, uma acta assinada por uma certa percentagem de educadoras, professoras e professores, aprovando aqueles estatutos.

Essa Assembleia teve lugar na sala da então Caixa de Previdência, na Rua Elias Garcia, a 12 de Março de 1978. E assim nasceu o Sindicato de Professores da Zona da Madeira, qual malmequer que floriu naquele mês de Março.

Outra etapa que o SPZN se empenhou, foi na criação da Federação de Professores-FENPROF. O nosso sindicato fez-se representar nas reuniões para a formação da Federação e, por fim, realizou-se uma assembleia para os sócios e sócias da Madeira decidirem a entrada ou não do SPZM. A Assembleia aprovou, por maioria, a entrada deste sindicato na Fenprof.

Nessa época, o nosso sindicato era pequeno e pobre, a Gabriela Relva chama-lhe sindicato-bebé. Comprámos uma fotocopiadora e mais qualquer equipamento e dávamos muitas voltas à cabeça para pagar as prestacções à Duplipélago. Uma ocasião, fui a uma reunião da Fenprof em Janeiro, que se realizou em Viseu. Os trabalhos decorreram numa grande sala, ampla, com apenas uma maquineta de aquecimento, que só dava para aquecer as mãos. Estivemos lá 2 dias a padecer com o frio. Quando terminaram os trabalhos, eu e mais 2 ou 3 colegas fomos para Nelas esperar o comboio para Lisboa. A estação era pouco mais que um apeadeiro. Havia lá uma fogueira num bidão para aquecer as mãos. Os meus colegas de viagem queriam que comprássemos bilhetes de 1ª classe, uma vez que não havia certeza de haver aquecimento na 2ª classe. E eu a argumentar que o meu sindicato tinha pouco dinheiro e era preciso economizar. O Chico dos Açores olhou para mim e disse-me o seguinte: Tu achas que há um professor nos Açores, cheio de frio como nós, a aquecer as mãos numa fogueira? Estão lá, nas suas casas, confortavelmente sentados, a conversar ou a ver televisão. E nós não merecemos viajar em 1ª classe? Estamos a trabalhar para eles.

Por fim acabámos por viajar em 2ª classe, tinha aquecimento e chegámos bem a Lisboa.

As reuniões de sócias e sócios, aqui na Madeira, também eram difíceis de gerir, porque havia muitas confusões nas cabeças de muita gente, isto de sindicatos e reivindicações e greves, eram coisas de comunistas e afins. Houve discussões animadas, confusas, com falta de civismo, mas alguém haveria de pensar seriamente no bem da classe docente, do ensino e da educação.

Uma ocasião, estive só a dirigir uma reunião de ajudantes de creches e jardins de infância, uma vez que tinha saído legislação que lhes dava possibilidade de entrarem num curso especial que lhes conferisse um diploma de educadoras. Não tinha homens no grupo, eram todas mulheres. Para acederem a esse curso, precisavam de x anos de serviço na profissão e o antigo 5º ano do Liceu.

No entanto, havia um grupo que não tinha as habilitações exigidas e não queria que houvesse curso nenhum, porque sabiam o necessário… Queriam o diploma, mas sem estudar. Este grupinho abafava as restantes e eu já não sabia o que fazer. De repente, entra a Helena, que trabalhava em Sta Clara e quando ouviu aquela argumentação levantou a voz. Mas eu quero estudar. A partir daqui, tudo decorreu normalmente e o nosso sindicato conseguiu que a Secretaria de Educação pusesse a funcionar um curso, em horário pós-laboral, que se repetiu mais uma vez e formou um grupo de educadoras que estava fazendo falta na nossa região.

A pouco e pouco, o pessoal docente foi compreendendo que o sindicato é importante, conquista regalias e direitos e não raras vezes impede que grandes malefícios nos aconteçam. Nem sempre se consegue, é certo, mas se nos deixarmos isolar, cada uma para seu lado, aí não chegamos a sítio nenhum. Ou seja, só chegamos à desgraça.

E o sindicato foi crescendo, as verbas foram bem administradas e tivemos a primeira sede, na Rua Elias Garcia. Já era uma boa sede, um lugar digno para receber sócios/as, para reunir. Foi um grande passo na vida do nosso sindicato.

E mais tarde houve condições para construir este prédio de raiz para as instalações do sindicato e centro de formação. É com orgulho que olhamos para o património material e imaterial do SPM, construído com o nosso trabalho e o nosso dinheiro.

Nos desgraçados anos da troika, todos e todas apanhámos os cortes e as baixezas de governantes que, perante as nossas queixas, nos acenaram com desgraças, falta de dinheiro, banca rota, e tudo o mais que lhes apeteceu. O grande chefe de fila dessa turma até nos chamou de piegas e que andávamos a viver acima das nossas posses. Agora, de governante, passou rapidamente a professor catedrático. Sabem tudo, aprendem tudo rapidamente e nós, que somos considerados uns estúpidos, trabalhámos tanto e nunca chegámos a essas categorias. Que me desculpem os professores catedráticos que não merecem estas críticas. Mas eu espero que o SPM e restantes sindicatos da FENPROF não deixem esmorecer a luta para recuperar os rendimentos que perdemos. Ainda falta dinheiro na minha reforma e eu continuo a reclamar por ele. Reformei-me com um determinado valor de reforma, é o meu direito e não o dou de mão beijada. Vão buscar dinheiro onde ele está e não deixem sair milhões para os paraísos fiscais.

Não posso deixar passar este momento sem prestar a minha homenagem àqueles e àquelas que nos acompanharam nestas andanças e que já não estão cá para festejarem connosco. Estou a lembrar-me da Maria José Alexandre, do professor Morais, a Isabel Sena Lino entre outras e outros que já nos deixaram.

 

E assim chegámos ao dia 12 de Março de 2018. E recordando o grande actor Raúl Solnado, o nosso malmequer pequenino que nasceu no dia 12 de Março de 1978, CRESCEU, CRESCEU, CRESCEU E JÁ SE TORNOU NUM GRANDE GIRASSOL, o sindicato de professores da Madeira, com sede na Rua da Cabouqueira, Funchal.

 

 

Funchal, 12 de Março 2018

Maria Conceição Pereira

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