Mário Nogueira, secretário geral da Fenprof, na intervenção de encerramento do debate sobre inclusão na Madeira, com alunos surdos e ouvintes
A inclusão, a língua gestual portuguesa e as condições para a escola pública receber os alunos com necessidades educativas especiais (NEE), neste caso em particular, os alunos com surdez, foram temas em debate no dia 24 de maio na Escola Básica e Secundária Dr. Maurílio da Silva Dantas, em Câmara de Lobos. A ação de sensibilização “A importância da Língua Gestual Portuguesa” foi organizada pelo SPM e integra-se na série de iniciativas da Fenprof no âmbito do “Debate sobre inclusão – com alunos surdos e ouvintes”, que percorre o país. O evento contou com a presença de Mário Nogueira, secretário geral da Fenprof (ver álbum fotográfico).
O Ministério da Educação procura que 60% do tempo escolar dos alunos com NEE seja passado na turma e o restante tempo na unidade criada na escola. O que exige medidas e condições. Mário Nogueira deu o exemplo dos professores de língua gestual portuguesa, que não estão inseridos no quadro das escolas como todos os outros professores e mantêm um vínculo precário toda a carreira. por outro lado, os intérpretes, importantes no caso da surdez, são muitas vezes colocados uma mês após o início das aulas, o que prejudica o apoio a esses alunos.
Helena Garrinhas, psicóloga, e Pedro Ribeiro, professor de Língua Gestual Portuguesa
O secretário geral da Fenprof apelou aos jovens presentes para terem a «força de pedir igualdade para todos», já que os problemas de inclusão, que diferenciou do conceito de integração, ainda «têm muito para andar até estarem resolvidos.»
Em declarações ao JM (25.5.2016 página 12), além de referir a existência de várias formas de surdez (a profunda, a não profunda e aquela de ocorreu durante o crescimento do indivíduo), Mário Nogueira sublinhou que a inclusão dos alunos surdos «exige apoios» para que possam ter condições como a presença de intérpretes de língua gestual. E assim os alunos com surdez poderem estar nas turmas com os restantes alunos. Não deixou de lembrar que, em 2008, houve um «retrocesso» no país no que diz respeito à inclusão destas pessoas com NEE, «baixando, artificialmente, a taxa de incidência».
Alberto Calado Nunes, presidente da Direção da Associação de Surdos, Pais, Familiares e Amigos da Madeira (ASPFAM)
A conferência/debate visou ainda «discutir também com os alunos ouvintes e sensibilizá-los» para a importância que tem esses colegas com surdez estarem integrados na turma com alunos ouvintes. Estiveram presentes turmas de 10.º ano da Escola Básica e Secundária Dr. Maurílio da Silva Dantas, que se mostraram muito interessados e participativos no debate. A interação foi maior com Pedro Ribeiro, professor de Língua Gestual Portuguesa da EREBAS – Escola Básica 2º e 3º Ciclos dos Louros.
Este professor com surdez, além de diferenciar os conceitos de surdo e surdo-mudo e a linguagem gestual de língua gestual, contou com o testemunho de alguns dos alunos ouvintes presentes, que tinham experiência de contacto, na comunidade, com pessoas surdas, sejam familiares ou amigos.
Falou-se nas dificuldades que vivem as pessoas com surdez e da necessidade de os ouvintes aprenderem a língua gestual a fim de comunicar e contribuir para a melhor inclusão de quem não ouve. Falou-se das perspetivas da comunidade surda e da comunidade em geral. Depois de explicar como se diziam algumas palavras em língua gestual, como amigo ou obrigado, o professor Pedro Ribeiro fez questão de contar uma anedota. Helena Garrinhas, psicóloga estagiária da Divisão de Acompanhamento à Surdez e à Cegueira da Direção Regional de Educação, acompanhou aquele professor durante a apresentação, ela também com surdez. Catarina Quintal, intérprete de Língua Gestual Portuguesa, assegurou a comunicação entre os intervenientes surdos e os ouvintes.
Ana Simões, coordenadora nacional da Educação Especial na Fenprof, e Cristina Gonçalves, coordenadora da Educação Especial no SPM
Além de Alberto Calado Nunes, presidente da Direção da Associação de Surdos, Pais, Familiares e Amigos da Madeira (ASPFAM), que deu conta do trabalho da associação e do encontro semanal entre os surdos da Região, participaram ainda Cristina Gonçalves, coordenadora da Educação Especial no SPM, e Ana Simões, coordenadora nacional da Educação Especial na Fenprof./NS (texto e fotografia)